É um equívoco dizer que o amor de Deus é incondicional, para que seja assim o amor de Deus deveria cumprir duas condições que, a meu ver, estão implícitas no termo incondicionalidade: a não necessidade de pré-requisito e a não expectativa de reciprocidade. Vejamos:
A- “Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro.” I Jo 4.19 (RC)
Deus não ama incondicionalmente: Deus ama para ser amado. Deus espera que seu amor por nós desperte amor por Ele. Se Deus amasse incondicionalmente a salvação teria de ser universal.
Incondicionalidade significa não exigir nenhum pré-requisito e não esperar nenhum tipo de resposta. Não é o caso: Deus espera ser amado. Logo, antes de ser incondicional, o amor de Deus atua para criar em nós condições de amá-lo. Não é incondicional porque dos dois fatores que demarcam a incondicionalidade: a ausência de pré-requisito e o não aguardo de resposta – o amor de Deus contempla apenas o primeiro. O amor de Deus não exige pré-requisito: “Mas Deus mostrou-nos até que ponto nos ama, pois, quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós.” (Rm 5.8 – SBP) O amor de Deus, entretanto, exige uma resposta: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3.16 – RA) – Deus ama ao mundo, mas só salva àquele que responde ao seu amor.
B- “O amor de Cristo absorve-nos completamente, pois sabemos que se ele morreu por todos, então todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem já não vivam para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” 2Co 2.14,15 (SBP)
O amor sacrificial de Cristo é suficiente para salvar a todos, mas, é eficaz aos que, conscientes desse amor, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. O amor de Cristo espera gerar conversão, para que haja salvação.
C- “Nós sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, dos que são chamados segundo o seu plano.” Rm 8.28 (SBP)
Deus é soberano, mas se responsabiliza pela história daqueles que o amam; o caminho dos ímpios, porém, perecerá (Sl 1.6). Deus garante que interferirá na história para que esta seja benéfica para os que o amam, contudo, deixará que os ímpios sigam livremente o seu curso, o que terminará em perdição. E, ímpios são os que não respondem ao amor de Deus.
D- “Foi antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de deixar este mundo para ir para o Pai. E ele, que amou sempre os seus que estavam no mundo, quis dar-lhes provas desse amor até ao fim. (…) Levantou-se então da mesa, tirou a capa e pegou numa toalha que pôs à cintura. Depois deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha. (…) Se eu, que sou Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também de agora em diante devem lavar os pés uns aos outros.” Jo 13. 1, 4, 5, 14 (SBP)
Mesmo o ato mais amoroso e aparentemente incondicional de Cristo tinha um propósito: provocar conversão em seus discípulos, de modo que o imitassem. Não era, portanto, uma demonstração da incondicionalidade de seu amor, mas um ato pedagógico visando um fim específico. Deus ama primeiro, porém não incondicionalmente, ele espera uma resposta.
E- “E diz também: Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer e se tem sede dá-lhe de beber. Ao fazeres isso, farás com que a cara lhe arda de vergonha.” Rm 12.20 (SBP)
Mesmo o amor com que Deus manda que amemos não é incondicional, espera uma resposta. Ainda que a gente não deva parar de amar por motivo nenhum: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.” Gl 6.9 (RA) – a gente, também, não pode perder a esperança de alcançar a resposta desejada.
F- “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.” Dt 6.4,5
Deus espera ser amado, porque esta é a única maneira adequada de relacionar-se com Deus na beleza de sua exclusividade, de sua santidade: amá-lo acima de todas as coisas – o que significa sempre escolher a Deus, não importa quão tentadora seja a possibilidade oferecida; quem ama a Deus acima de todas as coisas só escolhe o que Deus escolheria, porque sempre escolhe a Deus.
G- “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.” Jo 14.21,24 (RA) “Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou.” 1Jo 2.4-6 (RA)
Quem ama a Deus? Aquele que o obedece. O que acontece com aquele que obedece a Deus? O amor de Deus é nele aperfeiçoado, isto é, nele o amor que saiu de Deus consegue cumprir a missão para a qual saiu. Deus ama para ser obedecido! Quem não obedece a Deus como resposta ao seu amor, não só não o ama como nem o conhece de fato; logo, não pode nele permanecer, até porque nem está nele.
H- “Nem todos aqueles que me dizem: ‘Senhor, Senhor!’ entrarão no reino dos céus, mas apenas os que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus.” Mt 7.21 (RA)
Os que não obedecem a Deus não serão salvos, não porque a salvação seja pelas obras, mas porque a graça de Deus, que em nós foi derramada, nos torna filhos da obediência, prontos para as boas obras e para andar de modo digno do chamado que recebemos; porque, pela graça, somos fortalecidos com poder no homem interior, podendo, assim, ser imitadores de Deus, como filhos amados, como nos ensina o apóstolo Paulo, na carta aos efésios.
Então, quem peca não é salvo? Para os que caem em pecado há uma palavra de obediência que, em sendo cumprida, demonstra que eles, ainda amam ao Senhor, embora, por um momento, o tenham desonrado: “Mas se confessarmos os nossos pecados, Deus que é fiel e justo perdoará os nossos pecados e nos purificará de todo o mal.” I Jo 1.9 (SBP). Há uma ordem clara para todo o que, se dizendo filho de Deus, cai em pecado: arrepender-se. A ordem é não pecar, contudo, disse João: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo.” I Jo 2.1 (RA). É preciso, entretanto, ter sempre em mente a palavra do apóstolo: “Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus.” I Jo 3.4,8 (RA)
O amor de Deus não é incondicional, Deus ama para ser obedecido.
Tudo, na Bíblia, parece dizer que Deus não deixa de amar porque não houve resposta ao seu amor, entretanto, também não deixa de esperar que essa resposta venha. E se ela não vier, apesar de todo o amor que dispensa às suas criaturas, executará o juízo.
Por: Ariovaldo Ramos
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Desabafo de Ariovaldo Ramos